A dispersão de linces jovens, sobretudo machos, antes de estabilizarem territórios com alimentação adequada e conspecíficos é um fenómeno comum, tendo sido confirmados outros casos de movimentos de longa distância entre os dois países, nomeadamente dos linces Caribou em 2010, Mushroom em 2013, Kahn e Kentaro em 2015 e Lithium em 2016.

As informações obtidas a partir destes movimentos confirmam que a estratégia LIFE LYNXCONNECT é realista e viável. O conhecimento destes dados de dispersão, por outro lado, ajudará a equipa do projeto a conceber novas áreas para reforçar esta conetividade. Para além da maximização dos resultados e da rentabilização dos investimentos, foram efectuados investimentos na melhoria do habitat e na desfragmentação, com o objetivo de ligar as populações.

Troncho foi libertado numa das novas áreas de reintrodução seleccionadas na LYNXCONNECT, Sierra Arana (Granada), no ano de 2023. Vindo do cativeiro, usava uma coleira GPS que forneceu informações muito completas sobre os seus movimentos.

Permaneceu durante os primeiros dias nas imediações da zona de libertação, deambulando durante a primeira semana numa zona próxima do ponto de libertação, mas rapidamente iniciou um movimento de dispersão para sudeste, afastando-se da zona de libertação até chegar a uma zona próxima de Fiñana, em Almería, de onde se deslocou alguns dias depois para a Serra de Gador.
Permaneceu na Serra de Gador e seus arredores durante quase um ano, onde explorou a zona quase na sua totalidade, localizando a frequência do colar perto de Aguadulce e da capital de Almería, onde explorou quase 10.000 hectares.

A partir daí, deslocou-se para leste, estabelecendo uma espécie de corredor no qual chegou às proximidades de Carboneras e Mojacar, saindo da Andaluzia por Puerto Lumbreras e entrando na Região de Múrcia, chegando às proximidades da capital.
Nas semanas seguintes continuou a sua viagem por Múrcia, deslocando-se para a Serra Espuña e daqui, no seu trânsito por esta comunidade, o coleiro colocou-o perto de Calasparra, para mais tarde, após mais de um ano de viagem, o encontrar na nova área de reintrodução de Castilla la Mancha, “Campos de Hellin”.

A estreita e fluida coordenação entre os parceiros do projeto LIFE LYNXCONNECT em Murcia e Castilla-La Mancha, e o acesso à plataforma de coleiras gps por parte de todos eles, permitiu o controlo e monitorização do “Troncho”, bem como a colaboração com os técnicos e agentes ambientais destas comunidades.

Graças à informação fornecida pelos colares GPS usados pelos exemplares e ao facto de este exemplar ter sido monitorizado exaustivamente em todos os momentos. Os dados obtidos mostram, entre outras coisas, que alguns exemplares de lince-ibérico são capazes de percorrer mais de 25 quilómetros num só dia, o que prova que a ligação entre as actuais áreas de reintrodução é possível. Também são capazes de sobreviver, alternando os seus movimentos entre zonas com diferentes densidades de coelho-bravo. Esta última circunstância pode ser considerada excecional e, embora seja evidente que em algumas destas zonas o lince pode sobreviver à escassez de coelhos, é também evidente que não seria possível manter populações estáveis e reprodutoras da espécie nestas zonas.

Outro facto digno de nota foi a colaboração demonstrada pela maioria das explorações, tanto as que têm acordos de colaboração LYNXCONNECT, situadas dentro das zonas de reintrodução e mais frequentadas pelos linces que menos se deslocaram, como as explorações situadas fora das zonas de libertação, por onde passaram os linces que efectuaram os movimentos de dispersão mais significativos.