A população de lince ibérico cresceu exponencialmente desde que em 2002 se iniciaram os trabalhos para se evitar a extinção da espécie.
O aumento do número de indivíduos e da superfície ocupada ocorreu de forma relativamente “ordenada” durante estes trabalhos, tanto nas áreas remanescentes em 2002 como nas que se foram criando mediante reintrodução. Mas, além disso, e como é esperável que ocorra com uma espécie como o lince ibérico, um número indeterminado de exemplares dispersou-se pela península ibérica, chegando alguns inclusivamente a assentar em zonas não contempladas inicialmente pelos trabalhos de conservação da espécie.
Paralelamente, como se detalha aquí, a conexão entre as diferentes subpopulações é atualmente um dos objetivos principais do LYNXCONNECT, pelo que o projeto, quando estes assentamentos naturais ocorrem entre subpopulações, passa a considerá-los como “stepping stones" e avalia a conveniência da implementação do manuseamento que, se for caso disso, considerar necessário. Noutras ocasiões os assentamentos naturais podem ocorrer em áreas que fiquem fora da área de atuação do LYNXCONNECT, e que este projeto não trabalhe no seguimento nem no manuseamento destes territórios.
Sirva esta introdução para colocar em perspetiva os dados que se oferecem em seguida neste Censo, em que se oferecem de forma conjunta todas as informações atualmente disponíveis sobre a situação populacional da espécie; embora a origem da quase totalidade destas informações seja o próprio projeto LYNXCONNECT, também se incluíram informaçõeso não levantadas pelo projeto, e relativas a zonas onde este não efetua o seguimento da espécie.
No mapa seguinte mostram-se as diferentes subpopulações e áreas de assentamento natural da espécie em 2021, e assinalam-se os lugares onde o LYNXCONNECT criará as novas subpopulações que o projeto contempla.
Doñana-Aljarafe e Andújar-Cardeña são as populações remanescentes em 2002, que sobreviveram à extinção.
Guarrizas e Guadalmellato foram iniciadas no Life Lince (2006-2011), e hoje estão plenamente consolidadas (com pelo menos 15 fêmeas reprodutoras).
Matachel, Vale do Guadiana, Campo de Montiel e Mantes de Toledo foram iniciadas no Life Iberlince (2011-2018) e são subpopulações também consolidadas.
Ortiga é uma área de assentamento natural que, depois de ter sido avaliada com o respetivo protocolo, passou a ser considerada como área de reintrodução.
Las Minas, Setefilla, Pegalajar, Valdecañas-Ibores e Valdecigüeñas-Río Sotillo também são zonas onde a espécie se estabeleceu de forma natural, e que na maioria dos casos, depois de serem avaliadas pelo respetivo protocolo, serão consideradas como stepping stones do projeto.
Considera-se que as subpopulações de Andújar-Cardeña, Guarrizas, Guadalmellato e Campo de Montiel funcionam como uma metapopulação, Sierra Morena Oriental, dado que há intercâmbio genético fluido entre elas.
Por último, encontra-se Guadalmez, que também poderia ser considerada como um núcleo da Sierra Morena Oriental. O LYNXCONNECT não efetua o seguimento direto desta subpopulação, pelo que a informação disponível sobre esta zona não é totalmente equiparável ao resto da que se apresenta neste censo, mas é considerada suficientemente rigorosa para se incorporar no mesmo.
Subpoblación | Región | Hembras reproductoras | Cachorros | Total ejemplares | Superficie |
---|---|---|---|---|---|
Vale do Guadiana | Portugal | 31 | 70 | 209 | 462 |
Doñana-Aljarafe | Andalucía | 23 | 29 | 94 | 441 |
Andújar-Cardeña | Andalucía | 54 | 66 | 200 | 527 |
Guadalmellato | Andalucía | 13 | 12 | 44 | 178 |
Guarrizas | Andalucía | 30 | 55 | 151 | 333 |
Campo de Montiel | Castilla-La Mancha | 30 | 66 | 170 | 1.020 |
Guadalmez | Castilla-La Mancha/Andalucía | 16 | 38 | 82 | 131 |
Montes de Toledo | Castilla-La Mancha | 42 | 104 | 221 | 924 |
Matachel | Extremadura | 26 | 32 | 121 | 229 |
Ortiga | Extremadura | 3 | 7 | 20 | 57 |
Valdecigüeñas-Río Sotillo | Extremadura/Andalucía | 2 | 4 | 9 | 18 |
Setefilla-Las Minas | Andalucía | 2 | 7 | 17 | 80 |
Pegalajar | Andalucía | 2 | 5 | 13 | 33 |
Valdecañas-Ibores | Extremadura | 3 | 5 | 14 | 19 |
Península ibérica | España y Portugal | 277 | 500 | 1.365 | 4.452 |
Pode ser complexo analisar a evolução a longo prazo da espécie em cada uma destas subpopulações e assentamentos naturais, dado que estes últimos são gerados a partir de indivíduos cuja origem é, em muitos casos, desconhecida. Desta forma, o tamanho e a superfície ocupada por cada uma das subpopulações varia em função dos nascimentos, da mortalidade, da imigração e da emigração de indivíduos.
Além disso, à medida que algumas subpopulações vão crescendo, torna-se muito mais complexo efetuar um seguimento minucioso das mesmas.
Durante 2021 foi libertado um total de 30 linces nas áreas de reintrodução criadas em anteriores projetos Life e num novo stepping stone. Estes linces são provenientes do programa de cria em cativeiro, e todas as soltas foram duras (libertados diretamente no meio natural, sem uma fase prévia numa vedação de reintrodução).
A distribuição das libertações foi a seguinte:
Montes de Toledo: 8 exemplares; Vale do Guadiana e Matachel: 7 exemplares; Campo de Montiel: 4 exemplares; Guarrizas: 3 exemplares; Las Minas: 1 exemplar.
O gráfico seguinte mostra a evolução do peso das libertações, face ao tamanho total da população. Para as libertações usa-se o total acumulado, isto é, a soma de todas as libertações até um ano concreto, incluindo os indivíduos libertados que tenham morrido, mas só se contabilizam uma vez os linces que, por diversas circunstâncias, foram libertados mais do que uma vez na mesma ou em diferentes subpopulações.
A série começou em 2010, que foi quando se iniciaram os trabalhos de reintrodução na subpopulação de Guarrizas, embora anteriormente se tenham libertado dois indivíduos em Doñana para reforço genético.
Em 2014 foram iniciadas as reintroduções fora da Andaluzia.
Durante 2021 foi detetada a morte de 107 exemplares de lince ibérico.
O gráfico que se apresenta em seguida mostra a distribuição em % das causas de mortalidade detetadas; é importante que se tenha em conta que 1) a probabilidade de deteção dos indivíduos que morrem por diferentes causas é muito variável, o que pressupôs geralmente a sobreavaliação desta distribuição para os atropelos e a subavaliação para a caça furtiva ou as patologias, e 2) para algumas causas de mortalidade concretas, a probabilidade de se detetar um indivíduo radiomarcado é muito superior à da deteção de um indivíduo não radiomarcado. Por isso, o gráfico mostra a distribuição em % das causas de mortalidade obtida exclusivamente com os dados proporcionados por indivíduos radiomarcados (n=25).
Tal como já se referiu, a possibilidade de deteção dos atropelos é muito alta, independentemente de o indivíduo em questão estar ou não radiomarcado. O gráfico seguinte mostra a tendência do peso relativo dos atropelos face ao tamanho da população cada ano durante os últimos dez anos.